* Ciro Teixeira Correia

Reunidos em Curitiba, integrantes do Sindicato Nacional dos Professores cobram do governo federal mais ação e menos propaganda.

Lideranças do movimento sindical docente estiveram reunidas em Curitiba, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, na semana passada, para atualizar o plano de lutas da categoria para os próximos meses. Trata-se do 54.º Conselho do Andes–Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Conad), que reúne representações das seções sindicais de todo o país.

Levando em consideração a crise econômica mundial e suas decorrências nas medidas governamentais para os diferentes setores da sociedade, o Conad se reúne para definir propostas e ações no sentido de garantir os direitos sociais, a educação pública, gratuita e de qualidade para todos e condições adequadas de trabalho nas instituições de ensino superior, o que não tem sido contemplado nas políticas governamentais, na nossa avaliação.

Não é por outro motivo que o temário deste evento é unir os trabalhadores para enfrentar a crise, defender a educação pública e os direitos sociais, uma vez que a luta geral do sindicato e dos diferentes setores ocorre num momento de crise econômica e, infelizmente, nessas circunstâncias, são sempre os menos favorecidos que são chamados ao sacrifício e são esses setores da sociedade que precisam se unir, uma vez que nenhuma força isolada consegue desenvolver esse tipo de luta de modo eficaz.

De fato, o quadro de crise aumenta a pressão sobre o governo no sentido de colocar a universidade e outros setores da esfera pública a serviço dos interesses mais imediatos do mercado, e isso se contrapõe ao modelo de universidade e da função do Estado que defendemos, que deve se colocar na perspectiva do desenvolvimento da sociedade como um todo.

Nesse sentido, é preciso destacar que as principais políticas que o governo tem proposto no campo da educação têm visado, fundamentalmente, mais fazer propaganda de que o governo quer para o setor do que ampliar, efetivamente, o financiamento que o sistema educacional requer para dar conta da sua própria manutenção e das enormes deficiências que o país ainda tem nesta área. Ao invés disso, promove inúmeros programas que, de fato, não resolvem a situação.

Podemos citar algumas das iniciativas que o governo, de modo perverso ou irônico, alardeia: para a universidade, como sendo a “reforma universitária”, que abrange o programa de bolsas para que estudantes menos favorecidos estudem em escolas privadas, as quais, sabidamente, não têm a desejada qualidade, ao invés de ampliar efetivamente o sistema superior público; para a sociedade, a proposta consolidada no PLP 92, de entregar as principais tarefas do Estado nos campos da saúde, do esporte, da segurança pública e da seguridade social, para que sejam administradas por fundações privadas.

Enfim, esteve em discussão neste Conad como deve ser a atuação do Sindicato Nacional nessas diferentes questões que vão muito além dos legítimos interesses corporativos dos trabalhadores do setor do ensino superior.

*Ciro Teixeira Correia é professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN)

Por Rede Paranaense de Comunicação/Gazeta do Povo