Professor por profissão, maior, vacinado, cidadão de segunda zona, domicílio incerto, vagabundo pleno quando inativo; por ser, em dor, nele fiquei à sombra do manto de incerteza… Ator e animador de programas educacionais na pequena comunidade onde nasci. Criou a sinfonia do quase sempre nas suas aspirações vocacionais. Pára! Tira a máscara da cara e olha novamente o teu arrojo.

Graduou-se na esperança de emprego, tornou-se mestre em bens não mercantis. Foi obsessivo nas suas neuras, continuou agregando títulos medievais. Doutor em filosofia sem a honraria da nobreza e nem a posse da burguesia. Engajado na viela da educação não há lamento que lhe apague o lume, metrificou a sua pauta musical na harmonia da fuga. “Amanhã será outro dia”… Sentiu na crise, o desmoronar dos seus valores, privatização do emprego, demissão dos ditos improdutivos: literários, artistas, cientistas sociais e outros bichos que Inexoravelmente, caminham para a fronteira do inexistente sem o direito de sonhar com caminho de Pasárgada. J’accuse o direito de ser professor. Mas a gente só sente o horror quando participa da comunidade, o desespero ninguém nos diz, ninguém sabe aonde vamos! Meu Deus! O que foi que me sujeitei?

A vida o acomodou numa carreira de longo Investimento. Pagou cursos locais e no exterior, vestido de incerteza quanto aos seus reconhecimentos. A Instituição emagreceria bolsos, salários e outros apetrechos econômicos se estes não estivessem vinculados à via crucis do mundo acadêmico. Na sua maratona de cavaleiro errante, definhou na solidão de Dom Quixote sem o auxílio de Sancho Pança. No momento de reflexão, mesmo pressionado pela profissão, fez cessar o desejo de aquisição de livros, caindo no berço do voyeurismo livresco, peregrinando suas taras pelos Sebos mais sebentos dos seus desalentos, assinante de todas as livrarias virtuais. Na trama dos equívocos, tomou-se um fervoroso do Doutor Guilhotln, cortando cabeças dos pimpolhos nos cursinhos. Restaurou a democracia da competição, empurrando os rebentos para as escolas públicas de professores com salários mínimos, e continuou nesta operação de perdedor do jogo de soma nula.

Vivendo nesta gangorra, equilibrista de circo de Interior, desatentou para quase tudo: vida, família e reconhecimento. Encolheu pretensões, aumentou frustrações e sonhou como a heroína de Woody Allen, na “Rosa Púrpura do Cairo”. Canalizou todos os seus problemas para o Imaginário. A impotência, sem o recurso do Viagra, aos poucos se sentou nas suas paragens: salários congelados, Inflação controlada exclusivamente para cesta de bens populares.

Neste caminhar, num gesto que desata mais do que limita, continuou vendo a realidade quebrando sonhos: aluguéis, condomínios, telefones, escolas, cursos de línguas, cursinhos e, outros diabos soltos no imaginário do educador. Na mania da razão cartesiana, fez greve de protesto, esperando que o patrão do MEC compreendesse a pífia situação dos solicitantes. Mas, sem medo de expor as suas idéias, mesmo que confronte as crenças estabelecidas, sua coragem está presente nesta pequena história com algumas representações: Nós acreditamos que a desvalorização do professorado não tem lugar numa sociedade civilizada, e sim nos museus da história do país. E mister, desde logo, identificar Ecce homo, só biografia de infinitas palavras. Teve corpo a driblar a vida e no alambrado da mente assistia a vida na geral e figurava em permanente ensinamento, sem distinção entre alunos medianos e geniais, mas agora é um leitor de sala vazia na cata da aposentadoria.

Finalmente, Na expectativa de encontrar um mundo melhor, o professor tomou-se um leitor ávido dos informes do Ministério, bisbilhotando o humor do big-boss, mas descobriu tardiamente que o professor é quase tudo; ou seja, é quase nada. Mudamos ao longo da nossa carreira a vida de milhares de pessoas no País.

Um comediante em atividade João Luiz Fonseca dos Santos