Tu és a nossa inspiração feminina. O ícone da coragem e da ousadia da mulher paraibana. Guerreira na luta contra a subjunção da tradição dos costumes, que libertam o ser masculino e, limitam a experimentação da plenitude da vida ao ser feminino. Foste covardemente injustiçada, julgada e condenada. Eu indago aos teus algozes: Qual o teu pecado ou crime? Afinal, se não violaste nenhuma Lei, e pecado é um problema meramente de fundamento moral e metafísico, já o dizia Nietzsche.

Na verdade, Anayde, desejar e defender veementemente a liberdade do corpo, do pensamento e da alma feminina, não se configura em crime e muito menos em pecado. Na realidade, os teus julgadores, não compreenderam e nem acompanharam a amplitude do teu pensamento, em perceber o que já vinha acontecendo no mundo, desde a passagem dos séculos.

Teu legado não foi extinto, estás no rol das representantes históricas das mulheres nordestinas, misturada à mística dos cantadores de viola, da literatura de cordel e dos folhetins. És para nós mulheres de hoje, a essência do ser feminino livre, independente e emancipado.

Neste dia do teu aniversário de nascimento (18/02/1905), dia em que comemoramos a herança das tuas idéias expressas na tua prática, que se assemelha a história de inúmeras outras mulheres, como a de Roda Luxemburg, defensora incondicional da liberdade humana. Como ela, tu tivestes uma vida curta e intensa de perseguições. Posta a clandestinidade, viveste no final da tua vida á margem da sociedade. Tu foste “assassinada”, sem que ninguém da tua família ou do teu próprio grupo tivesse a chance de te ajudar.  Enfim, assim como Rosa, pagaste o alto preço da liberdade defendida.

A ti, libertária, em nome das mulheres da atualidade que defendem e reivindicam a emancipação entendida como a libertação de toda e qualquer forma de subjunção e opressão, todo o nosso respeito e a nossa admiração.

Mariza de Oliveira Pinheiro
(Docente da UFPB e Diretora de Política Social da Adufpb)
João Pessoa, 18 de fevereiro de 2010.